Situação resiste em tomar
partido pelos jornalistas
Feio, mal escrito e desprovido de conteúdo. Essas são as principais características do manifesto da auto-denominada “Resistir sem partidarizar”, a chapa apoiada pelo Sindicato dos Jornalistas do Pará.
No mesmo estilo que tem caracterizado os vazios editoriais de O Jornalista – o órgão oficial informativo do Sindicato –, o redator do panfleto da situação gasta dois parágrafos tergiversando sobre a redução dos lucros na Vanity Fair, Playboy, The New York Times, Reuters, na imprensa argentina, nos grandes jornais brasileiros, na Globo, etc, como se os problemas de caixa das empresas jornalísticas fossem a única e exclusiva fonte dos agravos enfrentados pelos jornalistas no continente.
São nada menos que 22 linhas de “nariz de cera” para revelar um equívoco: o jornalismo nas Américas está em crise porque as empresas estão com problemas de caixa. A demissão em massa de jornalistas nas ORM merece prosaicas quatro linhas do manifesto.
Seguem-se mais sete linhas utilizadas para criticar a liminar da juíza Carla Rister, que desregulamenta a profissão em nome da liberdade de expressão, e pregar a união. Mas união em torno de quê? – indaga o distinto público. Ao que o manifesto responde: da pluralidade de opiniões.
Ou seja, os jornalistas do Pará não precisam de um sindicato que dê respostas à precarização das relações de trabalho, às contratações irregulares sem carteira assinada, ao avanço dos problemas de saúde mental – como a depressão e as drogas – que tem vitimado dezenas de colegas, à falta de perspectivas profissionais, à ausência de uma carreira profissional, à ameaça de demissões, ao rebaixamento de salários, à sobrejornada de trabalho.
Como tudo isso, na opinião da chapa da situação, é produto da crise de caixa nas empresas, há muito pouco a fazer. O Sindicato deve se resignar a constatar essa triste realidade, se limitar a homologar as demissões e continuar arrecadando regiamente a contribuição de seus associados para assegurar o que o manifesto da situação chama pomposamente de “um dos princípios basilares do jornalismo – a pluralidade de opiniões”. Tudo igual ao que já vem sendo feito nos últimos seis anos
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Seria cômico, se já não fosse trágico há muito tempo. O manifesto da chapa da situação nos conduz a apenas uma constatação: a única resistência dos companheiros é em tomar partido pelo que interessa - os jornalistas do Pará. Não os do Vanity Fair ou os do The New York Times, que certamente devem estar cuidando de manter a integridade de suas representações de classe, mas dos colegas que ralam no dia-a-dia das redações e das assessorias de imprensa deste maltratado Estado.
PS. Os colegas da situação precisam convocar um redator com urgência para eliminar os erros de digitação que suprimiram por várias vezes o “r” da palavra próprio e, certamente, provocaram alguns dos muitos erros de concordância que atravancam o texto e o tornam muitas vezes ininteligível. Já que a direção do Sindicato não consegue lutar para manter os empregos, vamos ao menos dar uma força para preservar a Língua Portuguesa.